sexta-feira, 30 de abril de 2010


Onde vai a alentejana
Voando e a cantar
Lá vai de burro a magana
P´ró futuro a recuar

Caminhando gasta as botas
No burrico as ferraduras
Não louva a padres ou curas
Por becos e ruas tortas
Chegará a horas mortas
Cantando nem sei porquê
De boa vida não é
Nem riquezas nem farturas
Diga-me lá é você
Onde vai a alentejana

Os fados que ela entoa
No acento transtagano
Só falam de desengano
Da sua esperança à toa
O burrinho já nem voa
escutando seu fadistar
Pára muito admirado
Preso à beleza da voz
Sua dona muito a sós
Voando e a cantar

Cantando a garotona
Dos males que não merece
Mais feliz do que parece
E dando voltas à mona
Pensa o burrico da dona
No lombo com a alentejana
Cantando o fado cigana
Batendo pé no caminho
Mais lento que vagarinho
Lá vai de burro a magana

Esta coisa de ter mote
Em versos preso no pé
O meu forte é que não é
E eu nem sei o que é meu forte
Falando da alentejana
Cruzando terra maninha
A invenção não é minha
Pondo a cachopa a voar
Sem curso de pilotar
P´ró futuro a recuar


José Brás

1 comentário:

  1. Não lhe conhecia este estilo, mas eu de certo não faria tanto... E eu inocente a pensar que o voar inicial tinha a ver com pássaro!

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